quinta-feira, 19 de maio de 2011

Alicia Fernández: "Aprendizagem também é uma questão de gênero"

Para a psicopedagoga argentina, as dificuldades da criança em sala de aula têm relação com os papéis atribuídos a homens e mulheres

Cristiane Marangon (novaescola@atleitor.com.br), de Montevidéu (Uruguai)
ALICIA FERNANDEZ. Foto: Federico Gutiérrez
ALICIA FERNANDEZ"  Não é permitido
ao professor, por exemplo, agir com
ternura, criatividade e sensibilidade".

Uma questão despertava a atenção da psicopedagoga argentina Alicia Fernández na década de 1980. A maioria dos casos relacionados a dificuldades escolares que chegavam ao consultório dela se dava com meninos e não com meninas.Um estudo realizado entre 1986 e 1989, com crianças e jovens menores de 14 anos, comprovou uma observação: 70% deles eram do sexo masculino. A constatação de que o cenário se repetia em outros países estimulou a investigação sobre o assunto. O resultado está no livro A Mulher Escondida na Professora, que discute o papel feminino na Educação. Com 63 anos, a diretora da Escola Psicopedagógica de Buenos Aires presta serviços de consultoria a instituições de formação em seu país e também no Uruguai, em Portugal, na Espanha e no Brasil. “Sinto que sou um pouco nômade”, afirma. Atualmente, ela desenvolve pesquisas sobre hiperatividade e déficit de atenção na infância, problemas que cada vez mais são identificados, inclusive no Brasil.
Nesta entrevista, concedida à NOVA ESCOLA no Uruguai, Alicia explica que esses distúrbios são reflexos do comportamento da sociedade, permeado pelas questões de gênero, e não algo que aparece de forma espontânea e isolada em cada um dos alunos.

Por que relacionar as questões de gênero à aprendizagem?
ALICIA FERNÁNDEZ Percebi que a maioria das crianças que chegava para o atendimento psicopedagógico em meu consultório era de meninos. Achei que essa observação merecia uma pesquisa. Procurei estatísticas em outros países e constatei a mesma situação. Ainda hoje, de 75 a 80% dos pacientes encaminhados para o atendimento desse tipo são do sexo masculino.Para entender melhor a questão, comecei a analisar as famílias e percebi que em casa a figura feminina (mãe, avó, babá, irmã mais velha, tia etc.) era a responsável pelas primeiras descobertas dos pequenos.

Como a orientação feminina interfere na aprendizagem dos meninos?
ALICIA Considerando que os humanos aprendem por identificação, é possível imaginar como é difícil para um garotinho ser ensinado por uma mulher a fazer xixi usando o vaso sanitário,por exemplo. Ela não é um modelo para ele porque não age da mesma maneira. Isso se repete na escola, onde a maioria é de professoras. Sempre queremos nos parecer com quem ensina e é por isso que para os meninos é mais complexo dar uma significação prazerosa ao conhecimento.

Como se explicam, então, os problemas escolares apresentados pelas meninas em sala de aula?
ALICIA Com as garotas, o caso é outro. As dificuldades delas ficam escondidas porque o modelo que se tem de bom aluno é aquele que não questiona, é quieto, obediente, passivo e caprichoso nas atividades. Elas, em geral, reúnem essas características e, por isso, são valorizadas. Esses critérios de avaliação são criados por mulheres, que não consideram as questões de gênero presentes na sociedade. Se esse processo fosse encabeçado por homens, a situação seria diferente porque eles levam em conta outras coisas, como a espontaneidade e a ousadia.Porém o problema não se resolveria se eles também não pensassem nessa dicotomia.

Quais as principais queixas em relação aos estudantes encaminhados aos consultórios psicopedagógicos?
ALICIA
Os meninos apresentam hiperatividade e as meninas são diagnosticadas com distúrbios de atenção – estão sempre dispersas e não se concentram. Ambos os casos levam à dificuldade de aprendizagem e são considerados questões de gênero. Quando falamos de crianças, o maior número de pacientes é do sexo masculino, mas a proporção se equipara quando nos referimos aos adolescentes. Isso acontece porque eles, de modo geral, questionam tudo e todos.É assim que constroem o seu pensamento. Se a garota foi reprimida na infância, podem se manifestar durante sua adolescência distúrbios como anorexia e bulimia. Ela não se permite comer para se satisfazer ou come e sente necessidade de vomitar. É como se não tivesse direito de se apropriar do alimento. Essa mesma lógica ocorre em relação ao conhecimento.

Cabe ao professor desenvolver um trabalho intencional sobre gêneros?
ALICIA Eu afirmaria que sim se não tivesse medo de isso se transformar numa técnica, ou seja, o educador falar sobre o assunto duas horas por semana e nada mais.O assunto é para ser trabalhado de maneira transversal, com constância, nas mais diferentes disciplinas.É preciso, por exemplo, corrigir alguns textos que se encontram nos livros de História, como: “Os egípcios moravam na beira do rio Nilo. Suas mulheres...” O texto não diz claramente que as mulheres são propriedade dos homens, mas sutilmente sugere que a palavra egípcios, no trecho, não se refere ao povo como um todo. Essas mensagens subliminares são profundas e perigosas, pois criam um modo de pensar. É necessário excluir isso das aulas.

Cite outras situações de preconceito em relação à mulher.
ALICIA Quando procuramos as palavras homem e mulher em dicionários espanhóis e brasileiros, encontramos embaixo da primeira a seguinte definição: “homem público, indivíduo que ocupa um alto cargo do Estado”. Já mulher pública é definida como prostituta, meretriz. Isso está em publicações que, se supõe, falam de conceitos e não de mitos. A professora é uma pessoa pública, uma cientista, importante na vida da comunidade. Outro exemplo de problema relacionado ao gênero: as carreiras de caráter feminino demoram mais para serem reconhecidas. Isso acontece especificamente no Brasil com a Psicopedagogia, em que a maioria dos profissionais é mulher e – diferentemente do que ocorre na Argentina – ainda não é regulamentada.

Pesquisas indicam que muitos educadores atribuem dificuldades de aprendizagem dos alunos a uma condição social desfavorável.
ALICIA Não acredito nisso. Na Argentina, no sul da Patagônia, trabalhei com psicopedagogos e docentes numa comunidade indígena. Havia a idéia de que o povo que ali vivia não aprendia. Quando a história dessa comunidade começou a ser explorada, descobrimos que no passado os índios tinham muito conhecimento na área da saúde. Com isso, ficou claro que antes eles não aprendiam porque precisavam esconder suas origens e, assim, se adequarem aos nossos padrões. Alguns deles foram matriculados em escolas regulares argentinas e alcançaram notas altas nas avaliações, ficando entre os 10% com melhor desempenho dentro da capital federal. Esse exemplo comprova que se reconhecermos que, o outro é inteligente, independentemente
de raça, classe social e sexo, grande parte
das dificuldades deles desaparece.

Como as questões de gênero influenciam a profissão docente?
ALICIA Os sistemas educativos estão organizados conforme as sociedades patriarcais e, por isso, aspectos da singularidade dos gêneros são negados ou exibidos com excesso, quase como em uma caricatura.

Esses estereótipos prejudicam os docentes e, sem dúvida, os estudantes. O que o homem deixa de lado quando se dedica ao magistério?
ALICIA Às vezes, ele é o único dentro de um grupo grande de mulheres. Por isso, pesa sobre ele a responsabilidade do sexo masculino, ou seja, ele é visto como o grande pai. Quando é preciso chamar a atenção de um aluno, delegam essa função a ele – que não pode se constituir em um modelo de masculinidade como deseja. Não é permitido ao professor, por exemplo, agir com ternura, criatividade e sensibilidade. Se ele assume esse lado, vira motivo de chacota.

E a mulher, o que esconde?
ALICIA
As próprias idéias. Ela não discute opiniões e tem medo de publicar algo que escreveu. Não é à toa que 90% dos docentes são do sexo feminino e a quantidade de livros publicados por homens é muito maior.Na maioria dos países que pesquisei, cerca de 80% das publicações desse tipo são de homens.

Como mudar essa situação?
ALICIA Para que as mulheres se autorizem em público, é preciso que elas estejam dispostas a enfrentar quem não concorda com elas. Não é fácil. É necessário tempo para que isso aconteça, pois elas foram preparadas para estarem sempre sorridentes e submissas às imposições. Há trabalhos extraordinários que as professoras fazem e que deveriam se tornar públicos. Entretanto, elas não se animam a escrever suas experiências. Muitas dizem que são a única a pensar de forma diferente na escola. Então, pergunto: “Você já socializou suas idéias com colegas?” Geralmente a resposta é não.Nesse momento, digo que é possível existirem mais duas ou três que compartilham as mesmas opiniões e, juntas, elas poderiam ganhar força nesse questionamento.Por outro lado, há mulheres que quando querem se impor carregam na caricatura do sexo oposto. Elas são ouvidas, mas ficam com a imagem de agressivas e violentas. Esse não é um bom modelo nem para os alunos nem para a sociedade.

Essa falta de autoria tem a ver com as experiências na infância?
ALICIA Sim. A mulher que não se expõe é reflexo da menina que teve de esconder o que pensava, pois suas perguntas nunca eram consideradas apropriadas e as respostas sempre estavam incorretas. Com isso, deixou de questionar o mundo ao redor e passou a registrar tudo em um diário que ninguém pudesse ler. Essa é uma prática comum e exclusivamente feminina.Quando trabalho a psicopedagogia com adultas, proponho o resgate da garotinha que elas já foram um dia para que voltem a se permitir fazer perguntas, conhecer, descobrir e serem espontâneas. Defendo que nunca nos esqueçamos da criança e do adolescente que fomos no passado.

Como não minar o espírito infantil que há em cada aluno?
ALICIA Geralmente, na passagem da préescola para o 1o ano, parte das atividades comuns na Educação Infantil é deixada de lado para que se foque mais nos conteúdos escolares. Com isso, a mensagem passada é que a vida mudou e é necessário assumir afazeres mais importantes. Artistas, poetas, escritores e mesmo os cientistas – autores de grandes invenções para a humanidade – guardam a essência do brincar.Nenhum desses profissionais seria bem-sucedido se não tivesse viva a criança interior, que é questionadora. Os educadores podem ajudar a mudar muito a sociedade nesse sentido. Claro que é um trabalho demorado, mas é profundo porque ele está em contato com seres que são frágeis e aprendem por meio de referências.

De que maneira um mestre pode se tornar um modelo?
ALICIA Sempre nos lembramos daqueles que ensinavam com entusiasmo e dos que tinham senso de humor.Nunca nos remetemos a eles como alguém que lecionava bem. Quando se alfabetiza, por exemplo, se ensina o amor pela leitura e não só o ato de ler. Se o aluno aprende apenas a técnica, não vira um bom leitor. Quando um mestre desempenha sua função com esse grau de qualidade, deixa para trás qualquer problema relacionado à questão de gênero.
Quer saber mais?
BIBLIOGRAFIA
A Inteligência Aprisionada
, Alicia Fernández, 264 págs., Ed. Artmed, tel.0800-703-3444, 46 reais
A Mulher Escondida na Professora, Alicia Fernández, 182 págs., Ed. Artmed, 46 reais
O Saber em Jogo, Alicia Fernández, 184 págs., Ed.Ar tmed, 39 reais
Os Idiomas do Aprendente, Alicia Fernández, 224 págs., Ed. Artmed, 44 reais
Psicopedagogia em Psicodrama, Alicia Fernández, 208 págs., Ed. Vozes, tel.(21) 2233-9000, 32,10 reais

INTERNET
Acesse www.epsiba.com e leia em espanhol artigos de Alicia Fernández

 http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/desenvolvimento-e-aprendizagem/aprendizagem-tambem-questao-genero-432236.shtml

terça-feira, 17 de maio de 2011

Orientação sexual não se inverte

por Conceição Lemes
Independentemente da cultura, quase 10% da população é homossexual, sendo 7% homens e 3% mulheres. Menos de 1% é bissexual. Os 90% restantes são heterossexuais. Isso ocorre em todo o mundo, inclusive no Brasil.
“Ninguém se torna homo, bi ou heterossexual por opção ou escolha”, afirma a psiquiatra e especialista em medicina sexual  Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade (Prosex) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.  “O que nos conduz para esta ou aquela orientação sexual é um conjunto de fatores biopsicossocioculturais.”
Hoje os especialistas acreditam que o indivíduo nasce com uma carga genética sobre a qual se assentam fatores educacionais, sociais e emocionais, que o vão moldando para a heterossexualidade, a homossexualidade ou a bissexualidade. Muitos estudos demonstram que alguns fatores que vão determinar a orientação sexual estão presentes muito cedo na vida, talvez até já ao nascimento.
E mais. Teoricamente, o que define a orientação sexual de todos nós não é a nossa práticamas a nossa atração. Ou seja, fazer sexo com alguém do mesmo sexo ou do sexo oposto não é, por si só, determinante de homo ou de heterossexualidade. Por outro lado, sentir-se atraído por pessoa(s) do mesmo sexo ou do sexo oposto é indicativo de orientação homo ou heterossexual, respectivamente.
“Orientação sexual não se inverte”, avisa Carmita. As tentativas para “corrigir” a homossexualidade, “tratando-a” por meio de psicoterapia, técnicas comportamentais e de convencimento, resultaram em depressões profundas, surtos psicóticos gravíssimos e até suicídios.
DE ISMO PARA ADE
Os primeiros passos rumo à visão atual da medicina se deram na década de 1960, nos Estados Unidos. A Associação Psiquiátrica Americana decidiu estudar o assunto a fundo. Em 1980, baseada em evidências científicas, retirou o homossexualismo da lista de transtornos de preferência sexual, como a pedofilia (práticas e fantasias sexuais com crianças) e a zoofilia (sexo com animais). O sufixo ismo, que significa “doença”, foi então substituído por ade, que indica atividade, comportamento.
Em 1992, a Organização Mundial de Saúde (OMS), igualmente embasada em centenas de estudos, pôs a pá de cal sobre a questão: homossexualidade não é doença. Logo, é incorreto o termo homossexualismo; o certo é homossexualidade.
E sexo natural, que antes de 1992, era sexo com adulto, vivo e do gênero oposto, passou a ser aquele aquele que você pratica com ser humano adulto, vivo e cuja finalidade é o prazer e/ou a reprodução. Hoje, a homossexualidade é considerada uma forma natural de expressão da orientação sexual, assim como a hétero e a bissexualidade.
TREJEITOS ENGANAM
Por falar nisso, tem gente que afirma: Pelos trejeitos do homem ou da mulher sempre é possível saber se a pessoa é homossexual. Você concorda?
“Pois essa frase é mais uma das muitas ideias equivocadas sobre sexualidade”, alerta a professora Carmita, que frequentemente atende pais aflitos, achando que pelos trejeitos o filho ou a filha é homossexual. “Não é bem assim.”
Trejeito é um modo de se comportar diferente daquele adotado pela maioria do seu gênero. Numa criança de 5 ou 6 anos, pode ser apenas dificuldade de se identificar com o gênero ao qual ela pertence devido à ausência de modelos suficientemente claros na família. Mas isso não significa homossexualidade.
Como assim? Por exemplo, às vezes o pai é muito “machão” e esse excesso de virilidade pode inibir o filho de manifestar a sua fórmula máscula de ser. Por não se sentir tão poderoso, o menino acaba tendo então comportamento menos exuberante do que é esperado do ser masculino.
Já no caso de a menina parecer mais máscula, outras circunstâncias podem estar em jogo. Às vezes, por exemplo, a mãe é muito bonita e não sobra espaço para a filha como figura feminina. Aí, para não contrariar a expectativa materna ou mesmo paterna, a garota passa a querer ser diferente.
“Na faixa dos 5 ou 6 anos, é muito cedo para se alarmar”, antecipa Carmita. “O melhor é aguardar que a criança entre na escola.” Em geral, o simples contato com amiguinhos, amiguinhas, professor, professora, pai e mãe de colegas faz com que ela se identifique com modelos não oferecidos em casa e a questão se resolva. Porém, há casos em que os pais são bem resolvidos e mesmo assim a criança tem mais dificuldade para se identificar com o seu gênero. “Portanto, nada de precipitações”, insiste Carmita. “O mais adequado é acompanhar o desenvolvimento dessa criança.”
RESPEITE AS DIFERENÇAS
A adolescência é outra ocasião em que filhos são literalmente arrastados para os consultórios de especialistas por conta de “dúvidas” sobre sua sexualidade. Em geral, o raciocínio da família é o seguinte:Esse rapaz está com 16, 17 anos e não iniciou a sua vida sexual. Então, antes que comece a fazer bobagens, tem de resolver essa vergonha. Só que, em conversa reservada, frequentemente se descobre que ele tem namorado e não vê nada em si para ser corrigido. Porém, não tem ambiente em casa para revelar a sua preferência sexual.
Aí, o caminho é trabalhar a família para entender o que está se passando. É até possível que a orientação sexual não esteja ainda totalmente definida. Às vezes por medo, insegurança ou inabilidade, o jovem inicia a sua vida sexual na homossexualidade, depois percebe que era uma fase de experimentação e parte para a heterossexualidade. Outras vezes se dá o contrário. Devido à expectativa familiar e social, ele tenta, primeiro, a heterossexualidade. Posteriormente, aos 25, 30 ou 35 anos, se dá conta de que forçou a barra e assume a sua real preferência. O mesmo pode acontecer com as meninas.
“Pais e mães não devem se sentir culpados”, enfatiza Carmita. Primeiro, porque a homossexualidade não é uma opção. Segundo, a influência familiar é apenas parcela de uma situação muito mais ampla, que envolve inclusive carga genética. Terceiro, vocês não têm tanto poder quanto imaginam a ponto de definir a orientação sexual dos seus filhos.
Aliás, cabe exatamente aos pais de homossexuais combater o preconceito, dando-lhes força para que sejam respeitados e exijam o respeito pela sua condição. Só assim diminuiremos a necessidade que muitos ainda têm de viver escondidos. Guarde sempre isto: homossexualidade não é doença, é uma orientação sexual. Respeite as diferenças.
*A doutora Carmita Abdo é professora livre-docente da  Faculdade de Medicina da USP e  um dos 70 profissionais de saúde entrevistados por esta repórter para o livro Saúde — A Hora é agora, do qual é coautora.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Parlamento de Uganda adia debate sobre pena de morte para gays

David Kato
O ativista David Kato, que se opunha à lei, foi assassinado em janeiro
O Parlamento de Uganda adiou nesta sexta-feira a decisão sobre uma nova lei que previa a pena de morte para alguns tipos de atos homossexuais e que havia sido condenada por líderes ocidentais e grupos de defesa dos direitos humanos.
O presidente do Parlamento, Edward Ssekandi, disse nesta sexta-feira que o tempo havia se esgotado para discutir o tema e que o projeto não voltaria aos debates durante esta legislatura, que acaba na próxima quarta-feira.
Apresentada em 2009, a lei ainda pode voltar à discussões quando tomarem posse os novos parlamentares, eleitos em fevereiro.
O projeto determina que pessoas consideradas culpadas de "homossexualidade agravada" - quando elas fizerem sexo com um menor de idade ou deficiente físico ou mental, ou quando o acusado for HIV-positivo - possam ser condenadas à morte. O mesmo valeria para pessoas acusadas de estuprar pessoas do mesmo sexo.
Além disso, ele prevê criminalizar o aluguel de propriedade a uma pessoa cujo homossexualismo seja conhecido e o ato de ajudar uma pessoa a realizar um ato homossexual. Pessoas que deixarem de denunciar homossexuais às autoridades também estariam sujeitas a processos.
‘Abominável’
No país africano, o homossexualismo já é crime, punido com multas e prisão. O que estava sendo proposto é um endurecimento da legislação, o que causou uma forte reação negativa em vários outros países.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, descreveu a proposta de "abominável".
O correspondente da BBC para o leste da África Will Ross afirma que, assim como em muitas partes do continente, a homossexualidade é ilegal em Uganda, que tem uma sociedade muito conservadora, na qual a homofobia é comum.
Uma petição online contra a lei, criada pela rede de ativistas Avaaz.org, ganhou 2 milhões de assinaturas - sendo mais de 1 milhão apenas na semana passada, quando aumentaram os temores de que o projeto seria aprovado.
‘Longa luta’
A representante do grupo Human Rights Watch na África Central, Maria Burnett, diz que o assunto não está encerrado, e que ainda existe uma longa luta pela frente para impedir a nova legislação antigay em Uganda.
O deputado David Bahati, que apresentou o projeto de lei, disse à agência AFP que atingiu seu objetivo foi iniciar um debate. "Nós demos passos importantes em levantar a questão e isso vai continuar", afirmou.
Em janeiro, o ativista David Kato, que liderou a campanha contra a lei, foi assassinado depois de processar um jornal que o chamou de homossexual. A polícia negou que a morte tenha sido ligado à sua opção sexual.
Três meses antes do assassinato de Kato, o jornal de Uganda Rolling Stone publicou as fotos de diversas pessoas consideradas gays, ao lado do título: "Enforque-as".

domingo, 15 de maio de 2011

Lembremos sempre do Gênero Humano

Estamos iniciando nossos trabalhos neste blog, vislumbrando a possibilidade de tratarmos dessa espécie tão polêmica e, eventualmente, destruidora dos alicerces do planeta que é o ser humano. O foco deste blog são as relações de gênero, que estabelecem entre nós distinções, mas que também podem permitir redimensionar nossos papéis. Para isso, pretendemos trazer abordagens sobre o tema encontradas em outras mídias que não só da grande imprensa. Contamos com a colaboração de todos que nos seguirem, apontando críticas, sugestões ou mesmo só comparecendo. Parafraseando a máxima, acreditamos que "a interação é a alma do negócio".